Todos os dias à noite, sempre que leio a tua carta digital de nove páginas, fico a sentir-me a pior pessoa do mundo. Não por aquilo de que me acusas, mas sim por interpretar cada frase, cada letra que foi escrita, com o rancor, a raiva, a frustração e o desespero com que as escreveste. Não quero com isto dizer que não tenhas razão... tens! Aliás, ninguém me conseguiu "ler" tão bem como tu o fizeste naquela carta. Cada palavra dói.
É por doer e fazer mossa que não deixo de a ler todos os dias antes de me deitar...
Foste a pessoa mais inteligente com quem me cruzei, sem qualquer dúvida. O carinho que me deste das vezes que estivemos juntos é inigualável! Isto para não falar da noite especial que foi quando te conheci... naquela data, não há um ano, um momento em que não me lembre de ti.
Aqui, em Portugal, ainda está a passar a novela I Love Paraisópolis... tem lá um personagem que me lembras tu, então não perco um episódio sempre na esperança de "te" ver. Aquele teu Brasil que também poderia ter sido o meu mas sem nunca o ser... saudades tuas.
Saudades das expressões "bundão", "bonitxinho", "amor, não dá pum não!" e até do sotaque Curitibano, do enrolar das palavras, tenho saudade.
Um dia, disse-te - e muito bem - que no meu blog só estavam lá escritas coisas que me marcaram... amores, desamores, pensamentos e desabafos... "culpaste-me" de nunca ter escrito nada sobre nós, ou seja, que não tinhas significado nada para mim. Não é verdade, aqui está a prova. Pode ter demorado, tempos infinitos, mas escrevo-o com gosto das memórias passadas contigo... da tua ternura, da tua ansiedade, dos teus beijos e do teu toque.
Não escrevo por descargo de consciência, não! Escrevo porque estarei imensamente arrependido de não ter dado o devido valor a quem tudo fez por mim e que chegou a abdicar do país natal para ficar comigo.
Sempre senti que eras a tal pessoa que me podia dar mais do que aquilo que me deram até hoje (e o que me deram, foi bom), sinto que podia ser mais.
Encho-me de orgulho do teu prémio em Milão... da tua dedicação ao que gostas de estudar e trabalhar, da tua maturidade e da fé que eu não tenho em Deus. Talvez os nossos caminhos se voltem a cruzar, não sei.
Este texto só faz sentido ser lido ao som de Mana, Vivir Sin Aire, título de tudo isto que te escrevo, com saudade, pena e em formato de desculpas.
Espero-te bem...
Filipe Tiago Araújo