quinta-feira, 22 de março de 2018

Discretamente

Lá estavas tu, à hora marcada, tal como tínhamos combinado. Do outro lado, discretamente, olhavas em busca do meu olhar... eu já te tinha visto mas sem nunca te ver, pois tudo era discretamente.

A ocasião não era propicia ao encontro. O relógio avançava o tempo e o propósito ficaria adiado...

Por fim, aconteceu! Estavas ali, de poucas palavras, olhar azul-céu, de pele branca e avermelhada quando a timidez batia à porta.

O combinado ficara para mais tarde e realizara-se, de facto.
Entretanto, alguns meses se passaram. Com boas memórias, más experiências e um coração que voltou a palpitar, anos depois.


Bate como já bateu antes... Estrondoso, quente, impulsivo e "doente"!
Uma "cura" que demorou anos a moldá-lo de gelo, num ápice se desfazia em água de suor do corpo de ambos. Esse sentimento insano que deixei que crescesse sem querer deixar crescer, vai-me laminando aos poucos, como outrora fez.

Não há um só momento em que não pense em ti e, nessas recordações, as discussões feias sem razão de ser mas que o coração impulsivo fazia ir à luta.
Bem lá no fundo, creio ou quero acreditar que nutras algum tipo de sentimento por mim... essa é a verdade! Mas tudo se desvanece quando penso no sítio em que nos conhecemos e o que mais possa sair dali.

Gostava que um dia, abertamente, pudesses colocar tudo o que pensas "cá para fora", sem guardares para ti e deixando-me no vácuo todas as vezes que algo de menos bom acontece.

Sei que te perdi sem mesmo nunca te ter tido, embora - a espaços - te fosse tendo num abraço apertado ou num beijo caloroso debaixo de um lençol, onde o teu mundo se juntava com o meu.

Tenho saudades do que eramos, que nunca fomos, que sempre seremos! Desta confusão esclarecida para ambos que o tempo e a convivência tratou de baralhar.
Eu gosto de ti e assim gostava de continuar de gostar.


Filipe Tiago Araújo, 22 de Março de 2018