sexta-feira, 31 de agosto de 2018

O Barco

A tempestade parece ter passado…
O mar está calmo, longe da agitação de outrora.
Valeu a pena ter remado?
Vale sempre a pena, ora!

Ainda assim, a incerteza.
Parado no meio do oceano,
Dou comigo na delicadeza
das teclas de um piano.

A direção a ir, onde está?
Navego ao sabor do vento e da corrente…
Perdi o Norte, já.
Vou para o sol poente.

Com o remo na mão mas sem nunca remar.
Vontade de ir mas sem nunca chegar…

Lá ao fundo, o horizonte
Divide o sol pela metade.
Em ti, busco a fonte
Para a minha felicidade.

O mar não corre…
A corrente está fraca,
A esperança, lentamente, morre
Como o rasgar de uma faca.

Não consigo remar sozinho,
Quero pés assentes no chão!
Quero que me abras o caminho…
Quero que segures a minha mão.

Se não quiseres caminhar,
Entra neste modesto barco.
Seremos dois a remar,
Dois a sair deste charco.

O mar que sempre foi turvo,
De águas gélidas e fortes…
Perante ti, me curvo
Quero que meu respeito, por ti, notes.

Viaja comigo sem destino,
Neste barco modesto a remo.
Comecemos algo pequenino…
Vem comigo, leva-me ao extremo!

Deixa o mar ganhar ondulação…
Como a vida com obstáculos.
Anda sentir o meu coração,
Preso a ti com tentáculos.

Um polvo de emoções
Nesta praia deserta
Onde dois corações
podem amar pela certa.

Diz-me se vens comigo a alto mar!
Preciso da certeza das tuas incertezas…
Sem ti, não há como remar.
Perdido, sem rumo, nessas represas.

Esperarei…
Com âncora atracada.
Que tua palavra seja lei
para dar uma última remada.

Filipe Tiago Araújo, 31.08.2018




quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Um pequeno passo para o Homem...

Cansado… das horas já altas, do tempo, de ti.
Sim! Estou cansado de te trazer comigo todo este tempo, quando na verdade deveria ter-te deixado no lugar, no espaço, na tua vez de ficares para trás. É uma vida inteira a carregar-te, impedindo-me de ser feliz, de te pensar.
Acho que nunca fui forte o suficiente para libertar as amarras de um pensamento frágil… estou pronto para seguir sem ti.
Ele apareceu! Fez-se presente, com vontade de se tornar futuro, chegou e disse: "Vim para ficar!".
Batalhou fazendo-me batalhar, derrubar-te já não me custa, já não dói… foi fácil ficares lá trás e não me deixares ficar contigo, pois então será fácil deixar-te no lugar onde ficaste e não te carregar mais às costas.
Ao longe, vejo-o comigo… a ele, ao que me fez respirar puro de novo.
Perdi várias batalhas mas, finalmente, venci a guerra. Essa batalha final de muitas noites mal dormidas, de solidão, tristeza e nostalgia agora terminou.
Novos horizontes, duma luta sã, se avizinham. Conquistar o presente, viver o futuro, felicidade e consumação… novos sorrisos, outro brilho nos olhos e um coração à flor da pele.
Aquele "bichinho" cá dentro de quando esperas a tal mensagem a querer saber de ti, a preocupar-se, a gostar. Deslumbro? Ilusão? todas essas incertezas fazem parte da certeza de que algo mudou… cíclico mas de novos ventos, outros rumos e um frágil sentir dum coração renovado a bater.
Noutras alturas tinha medo de te tocar, sabendo eu que iria reagir de impulso da ferida já sarada cá dentro. Hoje, estou orgulhosamente, a deixar-te onde deves ficar, sem nunca te apagar mas com muita vontade de não te pensar… Adeus, Passado!

Filipe Tiago Araújo, 29.08.2018 pelas 2:22h