segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

Verdes Anos

 Ao som da guitarra de Carlos Paredes, nesses Verdes Anos, fecho os olhos e sinto o cheiro a casa, o sabor das tripas à moda do Porto, o barulho do metro ao chegar ao cais, o burburinho das pessoas nesse vai-e-vem da azáfama quotidiana... Sinto o Porto como julgava já ter sentido.

Perco-me no Bolhão, nas suas gentes, na peculiar pronúncia que lhes dá orgulho, fibra e coração. Desço, facilmente, à Ribeira e a brisa do Douro traz-me ao pensamento o mar, o sol, a praia. Olho para a ponte D. Luiz I como se fosse a primeira vez, nesse misto de nostalgia e saudade... O céu está azul, dá cor à cidade, vivacidade e luz! Essa luz que me ilumina por dentro para disfarçar o cinzento e frio que me vai na alma ao estar tão longe de casa.

Casa, essa, que é o Porto. A minha cidade, as minhas raízes, o meu Porto Sentido e de abrigo...

Neste meu sonho acordado de "Verdes Anos", à boleia de Carlos Paredes, subo a Alameda do Dragão, é dia de jogo! A camisola azul e branca vestida, cachecol envolto no pescoço, com cânticos ao Campeão... joga o FC Porto.

A empolgação, a ânsia, o nervoso miudinho... é dia de jogo grande, no Estádio do Dragão!

A tarde converte-se em noite, o dia foi longo e passeei pelas ruas da minha cidade, mesmo sem sair de onde estou. O meu pedaço de Portugal, que trouxe comigo, que vem nas noites frias e tristes onde o sono custa a chegar nessa terra lá ao longe.

Neste pedaço de tempo, intemporal, a guitarra portuguesa levou-me até ao meu cantinho, meu aconchego, à minha vida... de cor, de sentido, de felicidade e de paz.

Hoje, sigo como o fado, nostálgico e sofrido, com muitas saudades do cheiro da minha cidade, do meu país, das minhas gentes... de Portugal.

Frio como o vento, cinzento como o céu dessa terra bem longe, escuro como os dias de inverno e inerte como o tempo que não passa, dessa terra lá ao longe, aqui estou eu... com saudades de casa.

"... e enquanto não há amanhã, ilumina-me!"



Filipe Tiago Araújo, 23.01.2023