domingo, 17 de outubro de 2021

São como dois estranhos

 Eles são dois estranhos que se conhecem melhor do que ninguém.

Mas são dois estranhos... Que perderam o toque, o carinho, o olhar brilhante, o afeto, a magia.

São dois estranhos que se conhecem tão bem que não tocam em assuntos que sabem onde vão acabar.

Preferem o silêncio, o agir naturalmente, quando de natural não há nada... Fica a incerteza se ainda se amam?! Fica a dúvida dos porquês! Que será que fiz? Que será que disse? Já não me deseja? Pior! Já não me ama?

São dois estranhos que dividem o mesmo espaço como se fossem amigos...

Sobretudo, são duas pessoas que se conhecem mutuamente de olhos fechados e agem como dois estranhos! 

Hoje, um deles sentiu-se como há muito não se sentira... Sozinho, confuso, indesejado, excluído e inseguro! Vazio, vazio e mais vazio! 

Não sabe como se sente agora, mas sabe que o ama mais do ontem e menos do que amanhã... Mas só tem um remo... E um barco precisa que mais alguém reme. 

Adivinha-se uma noite longa de insónias, a pensar quão estranho duas pessoas que se conhecem podem se estranhar tão profundamente!


Filipe Tiago Araújo, 17.10.2021


sexta-feira, 8 de outubro de 2021

A Batalha

 Os dedos deslizam no teclado do computador assim como são as batidas do coração, no interior do peito como os segundos de uma bomba-relógio.

A ansiedade transporta-me a outra dimensão... é como um vulcão inativo à anos que, de um momento para o outro, - sem aviso - entra em erupção.

Medem-se forças! O medo contra a ansiedade. Na verdade, acaba sempre por não haver um vencedor ou um vencido. O medo apodera-se de mim e catapulta a ansiedade para me fazer sentir inseguro, impreparado, perdido e só. Aquilo que poderia ser uma batalha de emoções, acaba numa aliança para me deixar o coração a 1000 e os pensamentos à velocidade de um relâmpago!

A incerteza, a dúvida e os tantos outros pontos de interrogação que giram à volta da minha cabeça acionam o mecanismo natural de autodefesa. A frieza, a indiferença, a distância e a barreira erguem-se, de novo, como um manto de lava que explode de um vulcão há muito adormecido.

Encontro na escrita a paz que necessito... e como é tão bom regressar a algo que me apraz muito fazer, escrever.


Filipe Tiago Araújo, 08-10-2021


terça-feira, 20 de abril de 2021

Um Mundo Pior

 Os dias vão correndo, em passo largo, sem tempo de viver ou ser vivido... Numa vida acelerada, com o propósito de viver cada dia como se fosse o último e privados da liberdade.

1 ano como já não se vivia há 100! Aquilo de que tanto fugimos - mas que é o nosso destino - "bateu-nos à porta", voraz, implacável e impiedosa... a morte!

Fechadas as portas da normalidade do dia a dia, encerramo-nos em casa. Longe dos nossos, de quem amamos, sem o afeto de outros dias.

Vivemos para contar...

No ano em que o mundo parou, curiosamente, muito aconteceu! 
Ruas vazias, cidades desertas, a humanidade trancada em casa e a natureza a sair à rua... Animais selvagens a caminhar em alcatrão, sem medo, com passos de confiança e tranquilidade.

Eles eram os reis das ruas e nós na mais selvajaria dos recatos.

O tempo não perdoa! Foi passando mas mais lento do que nunca. No ano mais longo das nossas vidas, perderam-se tantas outras que poderiam ter vivido!

Perdeu-se o afeto, os sorrisos... ganhou-se a distância, o silêncio de uns olhares vagos, de um rosto tapado para nos salvarmos.

Nada se aprendeu... O mundo continua o mesmo! Egoísta e refém das suas gentes... perdeu-se vidas, ganhou-se esperança nas vacinas.

Aos poucos, tudo volta ao normal... como sempre se disse, Vai Ficar Tudo Bem!


Filipe Tiago Araújo