Lá fora, o lusco-fusco do dia... A hora em que o dia beija a noite e a lua substitui o sol.
Cá dentro? Está mais escuro na alma do que esta luz do candeeiro que, meio que me alumia.
As palavras vão-se soltando assim que pego na caneta... o pensamento flui à velocidade dum relâmpago, ainda que as lágrimas me turbem os olhos. A rapidez na escrita tenta acompanhar a do pensamento.
O coração palpita mais forte que o habitual. Soam os alarmes! Há crise sentimental?! Normalmente, quando escrevo, é a alma que sente uma necessidade incessante de se exprimir. Por vezes, vomita palavras bonitas... Tão belas, quanto tristes.
À medida que se acelera o bater do coração, acelera-se o escuro da noite. Ela, tão solitária como um coração partido!
O silêncio, a fadiga do dia e até da vida com a roldana de pensamentos, têm os condimentos perfeitos para que os olhos se encham de água como quando o mar galga a areia, na madrugada. Esse mar de águas geladas, como um coração desfeito... que ganha metros à terra assim como a solidão ganha quilómetros à alma.
Por fim, os olhos fecham-se. No preciso momento que o dia vem reclamar o seu turno.
O descanso só chega porque o cansaço não lhe dá folga. O travesseiro ainda está molhado do choro... a claridade irradia a escuridão com a sua luz. O sol? Faz calor no coração daquele que um dia aprendeu a amar.
É um novo dia. E a vida assim flui, para o futuro.
Filipe Tiago Araújo, 22.10.2023