Alta vai a noite... é quase dia!
Alta vai a tua viagem, bem lá no cimo do céu muito para além das nuvens, muito para além do que se possa imaginar.
Gostava de fechar os olhos e voar contigo... havemos de fazê-lo um dia...
É estranho como te sinto tão presente no meio da imensidão da tua ausência. Partiste cedo, sei que tinhas muito mais para dar mas deixaste-te ir mesmo sabendo que nos colocarias, a todos, de luto... Egoísmo da tua parte!
Mas agora que penso, realmente os anjos são para estar no céu e depois duma longa estadia na Terra voltaste ao altar a onde pertences.
O Fábio, segundo sei, na hora da tua despedida estava destroçado... prestou-te uma bonita homenagem, dizem. Desculpa mas não pude estar presente... melhor, desculpa mas não quis estar presente. Como me posso despedir eu de alguém que sempre julguei eterno?! (o Carlitos disse-me o mesmo: "Sempre vi o avô como aquela pessoa que é sempre eterna!").
O tio surpreendeu-me bastante pela positiva, despediu-se de ti com a coragem necessária que ele muitas vezes não tem, sei que estás orgulhoso dele... eu também fiquei.
A tia, coitada... a tia sofre muito (como todos nós), viu-te bem de saúde aparentemente no dia em que deste entrada no hospital e o choque foi mesmo ver-te já ,dias mais tarde, num sono profundo. Vai custar-lhe a ultrapassar.
A mãe, a minha mãe quero eu dizer, sofre em silêncio... Mostra a mesma aparente dureza e frieza, mas não passa de fachada! Está em cacos... Quando está em tua casa torna-se muda, vagueia pelas memórias tão vossas e quase não se nota a presença dela nesses instantes.
A avó, bem... Deves imaginar como está a avó. Triste, desorientada, abalada, saudosa, e mesmo nos tendo a todos por perto sente-se desamparada e sozinha. O semblante é carregado, nota-se a léguas. Captei uma frase dela no meio de tanto sofrimento: "Foi o único homem que amei! Foram 47 anos!"... bonito de se ouvir o amor, não? Sentido, eu já tinha sentido agora ouvi-lo foi a primeira vez.
O Alexandre, o teu Chiribi, chorou imenso pela tua partida... eu cá sei que os vossos laços eram bastante fortes. Não foi por acaso que quando ele te viu a primeira vez na vida te "trepou" pelo colo acima assim do nada! As lágrimas dele foram a maneira mais terna mas ainda assim triste de dizer que te ama e que sente a tua falta.
Dos que são mais ligados a ti, falto eu exprimir o que sinto... Sinto falta de tudo, nunca pensei que fosse tão difícil uma situação assim! O beijo na testa em sinal de respeito pela tua figura e pelo que sempre significaste para todos, fica agora na testa da avó... é um legado. A tua cadeira de sonho e de sono agora mudou de sitio e eu já não me consigo sentar onde me costuma sentar, a teu lado... porque agora tu não estás. Não faltará muito para que façamos a nossa viagem a Timor tal como te prometi, não sei porque o digo, mas a verdade é que o sinto. Faremos essa viagem voando.
Prometo visitar-te um dia, mas não me peças para ser em breve... Talvez daqui a um ano quando realmente sentir que o natal foi vazio e que todas as datas festivas já não têm o colorido de outros tempos a não ser o cinza agora. Aí sim, faço questão de te visitar semanalmente para não dizeres como me dizias quando faltava à "convocatória" aos domingos ao almoço... eram 16h e pico da tarde e eu chegava a casa e tu dizias: "então, vens almoçar agora, não é?", com aquele sorriso da rebeldia que te recordava o passado.
Pronto avô, creio que é tudo por agora... Continua a voar bem alto, sempre mais alto do que os outros todos. Tornaste-te no rei dos céus e mesmo nas noites de maior neblina és a estrela que mais brilha e aquece o meu coração.
Com saudade... Amo-te!
Filipe Tiago Araújo, 06.02.2013 05h24min
Sem comentários:
Enviar um comentário